EDITORIAL
_Susana Goldber e Ángeles Romay

Queridos leitores:

O novo número de Rayuela "as trans-formações no amor e na sexualidade" foi concebido como uma oportunidade para colocar ao trabalho as interrogações que as novas encruzilhadas na clínica atual com crianças e adolescentes apresentam. Também é a oportunidade de contar com os escritos de colegas AE que nos convidam a recorrer segmentos testemunhais em relação à questão do amor e do feminino.

O tema foi um disparador fulgurante para convocar aos analistas a participar do 8º número de nossa publicação.

Com muita alegria fomos recebendo as respostas ao nosso convite – doze autores participam desse número!! -

A luz desse percurso – tanto de suas experiências analíticas como de sua prática – nos chegaram reflexões inovadoras acerca do amor e das sexuações da época.

A diversidade dos temas que se abordam e seus entrecruzamentos, nos alentou a modificar o desenho dessa edição.

A fim de facilitar a lectura, traçamos uma orden estabelecida com eixos com certa afinidade temática, que conversem entre si. No eixo: "O inconsciente e a sexualidade hoje" vocês encontrarão com escritos preciosos que aludem a algumas consequências dessa época na qual o recurso ao pai está sacudido.

Assim, N. Soria assinala que é nesse sentido que se abre um phatos distinto ao edípico. Trata-se de um padecimento desabonado do Inconsciente, que se joga no campo do simulacro e não do sintoma.

Por sua parte, S. Salmon retoma à pergunta de Lacan no seminário V "há neurose sem Édipo". Rastreia o campo do pré-edípico e localiza a incidência que tem o modo invasivo de penetração da imagem na construção do campo da realidade hoje e a importância que adquire a função imaginária na construção de dito campo.

R. Seldes nos adentra no campo do Direito e das inovações tecno-científicas. Assinala que as montagens jurídicas que habilitam à intervenção no real do organismo – em pós de maximizar o bem-estar dos indivíduos – ignoram, negam ou florcluem – o que para os psicanalistas é o "tesouro melhor trabalhado": o inconsciente.

E. Solano nos convida a pensar a sexuação sintomática. Para isso, se submerge no caso Homem dos Ratos. Une a trama que baliza um percurso na sexuação que funde suas raízes no encontro precoce da criança com o furo traumático da realidade sexual.

Enquanto ao amor e suas transformações, Silvia Ons nos apresenta o caso onde se localiza o trabalho sobre o sintoma na experiência de análise de uma adolescente que abre à dimensão do amor. Desse modo o corpo "anoréxico", entra em uma dialética que admite que o gozo possa condescender ao desejo. Raquel Cors Ulloa nos oferece um interessante testemunho de seu percurso pelos caminhos do amor, a partir suas precoces arestas mortificantes até o seu trânsito pelo dispositivo do passe, que lhe habiita viver"... a pulsão que resta de aquele sujeito liquidado dos enganos do amor".

Sob a rubrica "Acerca do amor ao pai", reunimos três textos causados por este interrogante. Assim, o texto de Gastón Cottino, "Notas para uma investigação em torno à família a partir do pai e seu declínio. Para isso, se vale de um texto vigente "Os complexos Familiares". A pergunta pelo pai é retomada por duas autoras: Piedad Spurrier e Gabriela Basz. Textos que dialogam entre si e recorrem distintas versões do amor ao pai, tomando tanto o último ensino de Lacan como textos freudianos e lacanianos. Escritos que bordeam uma pergunta central: Onde um filho encontra um pai hoje? Respostas são propostas nas quais o amor e a transmissão jogam uma partida decisiva.

E o amor de transferência? Habilitará o amor ao pai, a um pai às vezes inibido em sua possibilidade de transmissão. Porque finamente... o que é um pai?

Ao mesmo tempo, o eixo: "O femenino: Opacidades, heresias,…." Reunimos os trabalhos de Sergio Laia, Gerardo Battita e Maria Cristina Giraldo.

Sérgio Laia, com seu texto "O analista, sua análise e o fator feminino" recorre o texto freudiano "Análise terminável e interminável", onde se serve de uma série de conceitos de grande interesse para finalizar articulando o final de análise e a orientação em direção ao feminino. Destaca o fator feminino no qual Freud chamou "o grande enigma da sexualidade". E conclui com sua noção de se fazer "sempre disponível", isto é, nos deixar afetar pelo fator feminino que demarca os corpos sexuais.

O texto de Gerardo Battista: "A heresia é feminina" nos introduz na temática a partir de uma hipótese: "O declínio do pai e o avanço da tecnociência incidem em algumas religiões e feminismos...ambos trabalham como relevo para lidar com o real da diferença sexual nos jovens com um laço indelével ao discurso do inconsciente. Ele se servirá em sua elaboração de duas séries televisivas: Pouco Ortodoxa e O conto da Criada para pensar os cruzamentos possíveis entre as religiões e os feminismos a respeito do feminino, do corpo e do capitalismo geminado à ciência.

No trabalho "A opacidade feminina" Maria Cristina Giraldo consegue nos transmitir com magistral bem dizer sua experiência analítica. Ela vai delineando a passagem de sua recusa da feminidade ao saber-se mujer, mas em fuga, como na fuga musical. Conformam este caledoscópio: o uso da voz e do silêncio o des-cobrir diante do olhar do Outro, o velar-se para si mesma, a inibição, a autoria oculta, o clandestino, o encontrar soluções no reverso e na opacidade do gozo de sua solução sintomáthica. As cartas de amor também jogam sua partida.

Agora sim, convidamos nossos leitores a disfrutar do jogo de matizes, interrogações, sombras, claros-escuros, que os textos de nossos colegas nos proporcionam.

Queremos agradecer especialmente aos artistas Manuel Jindra e Ivana Roitberg Strajilevich que tão gentilmente contribuiram com sua obra os trabalhos deste número de Rayuela.

Boa leitura!!!