EDITORIAL
_Susana Goldber y Ángeles Romay

Obra: "Detalle de borde"
Artista visual: Myriam Jawerbaum

Queridos leitores:

Nesta ocasião enquadramos o eixo da nossa publicação na convocatória lançada por Daniel Roy, chefe do Instituto Psicanalítico da Criança da Universidade Jacques Lacan, para as Jornadas de 2024 do referido Instituto. A proposta leva o título "Sonhos e fantasmas na criança". Vocês encontrarão o texto orientador na presente publicação.

Este número, o 10º da Rayuela, é intitulado:

"Sonhos e fantasmas na clínica com crianças e jovens. Uma trama entre o enigma e a fixação"

Recebemos uma resposta entusiasmada dos colegas ao convite para participar desta convocatória.

Assim contamos com trabalhos com belo percurso epistêmico e clínico que ilumina o pulsar das vicissitudes com que nossa época nos confronta.

No eixo: "Pinceladas epistêmicas"

O trabalho de Fabián Naparstek traça um percurso interessante que, sem deixar de retornar a Freud, toma como bússola o "RSI no sono". A partir daí ele marca os diferentes momentos da obra de Lacan em que o real assume um novo estatuto que não tinha até o momento e que levará algum tempo de elaboração para ser articulado na teoria.

Em "O Fantasma de Janus", Celina Coraglia ordena uma série de perguntas em torno do texto de orientação de Daniel Roy. Ela pergunta: fantasia e fantasma são a mesma coisa – como parece implicar a palavra francesa fantasme, que condensa ambos os significados – ou o fantasma é, na verdade, um Janus no qual as fantasias seriam a face visível e manifesta do fantasma inconsciente? A partir desta questão, a autora tenta vislumbrar o papel e a importância das fantasias na criança.

No eixo: "Sonhos e despertares"

Contamos com a contribuição de Mirta Berkoff que a intitula com uma pergunta: "Por que é tão difícil para as crianças dormirem?" Outras questões surgem rapidamente: "Se o sonho de uma criança fosse uma pura realização de desejos, por que sonhar não é agradável para as crianças? Como explicar os tão frequentes "sonhos ruins?" Na medida em que ainda não se apoia plenamente na rede simbólica, a criança não tomou posição em um discurso. O que se espreita aos pés da cama das crianças é um furo na rede de ditos próximos ao real traumático.

O escrito de Paulina Salinas, "Do fio solto à máquina de amarrar", dialoga com o de Berkoff. Ela se pergunta sobre a função do analista ali, naquele tempo inicial de encontro com a linguagem, imerso na tessitura do mal-entendido estrutural. Tempo do sepultamento do infante naquele significante que o preenche, o S1. Saber ler aí é a palavra de ordem. Ela propõe fazer esse segundo significante, tornar-se S2 para que o sujeito se constitua barrado e emerja. Por fim, ela se questiona sobre a relação entre o sonho e o fantasma.

No eixo: "Brincadeiras, desenhos e fantasias"

Em seu escrito "Fantasias e sonhos no autismo", Gustavo Slatopolsky nos oferece a oportunidade de compartilhar as dificuldades que as noções de sonhos e fantasias se colocam para o autismo. Este tema de pesquisa foi imposto diante do encontro dessas produções em sujeitos autistas no curso de suas análises. O autor considera que a leitura da transferência é o fator fundamental, e a pergunta sobre si nesse sonho particular, a mise-en-image, que dá lugar a uma cena, se articulará ou não a um significado inconsciente. Ele também sugere que as fantasias recolhidas no tratamento exigem questões do mesmo teor.

A contribuição de Luisa Aragón, "Sonhos, fantasmas, pesadelos, alucinações...porosidades e modulações", oferece-nos exemplos em que o sonho pode deixar aberto o caminho para a construção do fantasma, pois há sonhos em que o fantasma aparece e é possível pensar na sua construção a partir daí. Ela propõe um caso apresentado em uma sessão realizada na Antenne 110, que ilumina detalhadamente a noção de porosidade entre pesadelos e alucinações.

Em "O pesadelo de uma criança e sua interpretação", Ana Lydia Santiago apresenta um caso em que localiza a experiência que a criança tem do sonho de angústia, ou mais precisamente, o ponto do sonho que gera desprazer e provoca o despertar: trata-se de uma ameaça de que este ponto seja transposto para a sua vida de vigília. É notável o interesse clínico que as intervenções da analista nos trazem. O percurso deste trecho da experiência analítica culmina com uma questão enigmática e opaca sobre o que a criança é para o Outro.

No trabalho "Poppy play time", Camila Candiotti propõe um caso bastante atual, em que o material lúdico está vinculado a personagens de videogame. A analista, atenta à instalação da transferência – dócil ao que o ser falante ensina – propõe o uso de seu celular. No videogame – à maneira de um pesadelo – a fronteira real entre o literal e a metáfora lúdica se confunde. Acompanhar o jogo online, à maneira da interpretação dos sonhos, permite a elaboração de uma vestimenta imaginária e de uma mínima trama simbólica, que sustenta uma borda imaginário-real e simbólico-real.

No eixo: Fantasias e sonhos em nossa época

O texto de Marcela Ana Negro: "Como a época afeta a criação de fantasias da criança?", sugere que a era das telas invadiu as crianças com fantasias prêt-à-porter, iguais para todos. O desafio que nos convoca como analistas será o de possibilitar a criação das nossas próprias ficções. Será a introdução do dom do amor o caminho para isso? Essa é a hipótese que a autora coloca.

Teresinha Natal Meirelles do Prado em "Do universal ao singular: conexões com o fantasma na contemporaneidade" explora que, no discurso capitalista, uma vez que o pai não é mais quem dá as regras, é o imperativo do gozo quem comanda. Portanto, para a autora, o relato dos sonhos, dos desenhos e das brincadeiras de uma criança, com seu valor de diversão, permite que cada sujeito seja considerado em sua singularidade, localizando as possíveis soluções que cada um pode encontrar, sem tirar o "fora da norma", como algo deficiente.

No eixo: "Usos dos sonhos e fantasias na clínica",

O texto "A Criança e Suas Ficções", de Maria do Rosário Collier do Rego Barros, centra-se em localizar a função dos sonhos e dos fantasmas no processo de separação, para o qual todo sujeito é convocado desde muito cedo. A autora considera que o desdobramento da fantasia da criança em análise, ao mesmo tempo em que a faz emergir como sujeito dividido pelo significante que presidiu sua chegada ao mundo, também constitui um instrumento para lidar com um gozo experimentado em seu corpo.

Em "Sonho e fantasma na Infância", Carolina Koretzky se questiona sobre os sonhos de angústia, e seu valor clínico, nos dizendo que "quanto mais conseguimos rodear e bordejar pela cadeia significante o real que está em jogo nos sonhos de angústia, esse real terá que insistir e invadir o espaço do sonho." Para o analista, trata-se de pensar a angústia como sinal de um real, que possibilitará o início da constituição de um fantasma, no qual a dimensão pulsional será central.

Gisela Smania contribui conosco em "Os sonhos nas crianças. Uma peça ética." Ela prioriza o dizer do analisante sobre a experiência de sonhar em uma época marcada pela redução da realidade humana ao funcionamento cognitivo-comportamental. A autora explora a figura do fio como a "operação de bordado que constitui as formações do inconsciente em torno do núcleo do real".

Ana Cristina Ramírez nos brinda com seu texto "Servir-se do sono para inventar algo que lhe permita voltar a dormir". Nele a autora toma o conceito freudiano de trabalho onírico, para enquadrar os pesadelos como uma primeira tentativa de discernir o irrepresentável, aquilo que abre furo na trama simbólica e desperta. O trabalho onírico produz interpretações fantasmáticas sobre aquilo que é perturbador, aquilo que faz furo.

Para finalizar com os autores que nos enviaram suas contribuições para este eixo, citamos o trabalho de Irene Kuperwajs, intitulado: "Notas sobre sonhos repetitivos", no qual afirma inicialmente que "existem sonhos e sonhos". Trata-se de situar como o relato dos sonhos entra na análise de uma criança ou adolescente, visto que se trata de sonhos sob transferência. Para a autora, os pesadelos ou sonhos repetitivos falam de um real sem lei, do que não pode ser elaborado, da falha do sonho em tratar em esse real. Os sonhos repetitivos implicam um trauma, muda seu estatuto, sendo possível pensar nele como sintoma que perdura e insiste. Deve-se tomá-lo, então, como um indicador da fixidez de um gozo que insiste. "O sonho de repetição é outro tratamento de um real e uma tentativa de elaboração pela via do sonho-fantasma."

Contamos também, neste número, com a inestimável intervenção de artistas plásticos que, com a sua melhor disposição, contribuíram para acompanhar os textos que se encontram nesta nova edição da Rayuela. A eles, nosso profundo agradecimento: Analía Gaguín, Andrea Diaz, Carmen Aztibia, India Zapata, Luis Felipe Noé, Myriam Jawerbaum, Santiago Hormanstorfer, Valeria Feder, Valeria Paula Erlijman 

Agora sim, com muita alegria, convidamos vocês a conhecer a Rayuela 10. Boa leitura!

Tradução: Inês Seabra Rocha (EBP/AMP)